terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Quando o sono chega


"Então o levou para fora, e disse: Olha agora para o céu, e conta as estrelas, se as podes contar; e acrescentou-lhe: Assim será a tua descendência. E creu Abrão no Senhor, e o Senhor imputou-lhe isto como justiça. Disse-lhe mais: Eu sou o Senhor, que te tirei de Ur dos caldeus, para te dar esta terra em herança. Ao que lhe perguntou Abrão: Ó Senhor Deus, como saberei que hei de herdá-la? Respondeu-lhe: Toma-me uma novilha de três anos, uma cabra de três anos, um carneiro de três anos, uma rola e um pombinho. Ele, pois, lhe trouxe todos estes animais, partiu-os pelo meio, e pôs cada parte deles em frente da outra; mas as aves não partiu. E as aves de rapina desciam sobre os cadáveres; Abrão, porém, as enxotava. Ora, ao pôr do sol, caiu um profundo sono sobre Abrão; e eis que lhe sobrevieram grande pavor e densas trevas." (Gênesis 15:5-12)

Sempre considerei essa passagem intrigante. Sempre tive a certeza de que havia um significado profundo na narração do que aconteceu neste momento da vida de Abraão.

Me lembrei de situações da minha infância, normalmente relacionadas a filmes de televisão que eu insistia em querer assistir, mesmo que eles começassem tarde da noite. A televisão anunciava a semana inteira a apresentação do filme e eu contava os dias. Quando o dia chegava, eu contava as horas. Finalmente era hoje e eu mal podia esperar. Meus colegas de escola também estavam empolgados, sabia que esse seria o assunto da manhã seguinte. Me deitava confortavelmente no colo de meu pai e aguardava o momento. Apenas mais algumas horas. Então algo inesperado acontecia. Começava a sentir um terrível sono, sono de quem acordava cedo todos os dias, sono que ameaçava os planos da semana inteira! Lutava contra ele com confiança, na certeza de que podia vencer, não queria perder aquele filme por nada! Na maioria das vezes, porém, o cansaço me abatia minutos antes do filme começar. Despertava após algum tempo e percebia que estava deitada em minha cama, meu pai me carregara até lá, e o filme já havia acabado. Odiava aquela sensação!

Essa história de Abraão me fez sentir algo semelhante. Me fez ponderar se existem momentos assim em nossa caminhada com Deus.

A primeira vez que ouvimos a voz de Deus e recebemos uma promessa da Sua parte é um momento mágico! Passamos a semana inteira, meses inteiros pensando naquilo, relembrando cada palavra e uma excitação cresce dentro de nós. "Deus tem planos pra mim!", pensamos, "Grandes planos!". Nos sentimos especiais, nossa vida ganha sentido, expectativas enchem nossos corações! Acredito que foi assim que Abraão se sentiu ao ouvir a voz do Senhor anos antes. Ele havia recebido grandes promesas de Deus, ele, um homem insignificante, idoso, sem filhos e casado com uma mulher estéril. "Uma grande nação!" Imagino quão grande não foi sua excitação ao ouvir tais palavras, as melhores notícias que já recebera em toda a sua vida, e vindas da boca de Deus! Imagino quantas noites Abraão passou sem dormir relembrando o que ouviu, quantos dias olhando o céu e imaginando, sonhando com o que Deus lhe dissera. Imagino sua excitação ao partir de Harã em direção às promessas que recebeu. Abraão era a imagem de um homem determinado e cheio de expectativas no coração.

Nessa passagem, porém, encontramos Abraão exatamente dez anos depois daquele momento. Dez anos caminhando por um deserto, dez anos enfrentando fome, sede, calor, frio e morte. A expectativa da promessa que recebeu parecia começar a escapar dos seus olhos. De repente aquela convicção que o fez sair tão resolutamente de Harã já não era tão presente e ele começava a acreditar que morreria sem descendência, que a promessa havia falhado. Afinal, por que até agora Deus não lhe havia dado filhos já que foi Ele mesmo quem prometeu? Aquele era um momento delicado para Abraão e Deus sabia disso.

Vemos Deus então fazer coisas incríveis nesse momento. Ao levá-lo a olhar para o céu, Deus restaurou a expectativa que Abraão precisava ter no coração, reacendendo a imagem que havia morrido dentro dele. Em seguida resolveu dar-lhe um sinal que traria a certeza que ele precisava, um sinal que ele entenderia. Era a maneira que os homens do seu tempo firmavam aliança.

É nesse momento que vejo nessa passagem a mesma luta que nós enfrentamos. Após ter feito tudo o que Deus mandou fazer, Abraão esperava. Enquanto esperava, enxotava aves de rapina, abutres que vinham roubar e estragar a certeza daquele momento. Foi então que a tarde chegou, e, após muito esperar, Abraão foi vencido pelo sono, um sono acompanhado de pavor e densas trevas.

Acredito que chega um momento em nossas vidas em que nos encontramos como Abraão. Caminhamos durante anos carregando promessas em nossos corações, diligentemente nos preparando e alegremente aguardando o cumprimento delas a qualquer momento. O tempo passa e passamos a lutar contra abutres, a resistir às vozes que insistem em nos dizer que talvez o que ouvimos nunca aconteça, que Deus mudou de idéia, que já é tarde demais ou que falhamos. Durante um longo tempo resistimos com todas as nossas forças, enxotamos aves de rapina e guardamos nosso coração, até que o inesperado acontece: o sono chega.

O que fazer quando o sono chega? Uma vontade não de desistir das promessas, mas de dormir, de parar de lutar, de acordar apenas quando tudo tiver passado e os planos de Deus finalmente estejam a ponto de se cumprir. É possível? Teríamos essa alternativa?

Esses dias tenho pensado se Deus prepara momentos de descanso para nós. Momentos em que Ele deseja que cessemos todas as nossas atividades e simplesmente descansemos nele, enquanto O observamos cumprir em nós aquilo que prometeu. Paramos de lutar contra os abutres, paramos de trabalhar e simplesmente dormimos. Não um descanso vigilante, mas um sono profundo, uma completa ausência de atividade.

Essa idéia não nos agrada muito. Durante todo esse tempo temos sido ensinados a lutar, a prosseguir, a pressionar para o alvo. A apatia que sentimos quando dormimos, longe de nos trazer descanso, é como pavor e densas trevas. Sentimo-nos perder tudo o que trabalhamos até agora, toda a disciplina, as longas horas de leitura e meditação, de dedicação à oração, sentimo-nos mergulhados em um sono profundo e isso nos apavora.

Abraão deve ter sentido o mesmo. Caiu em sono profundo após anos de espera e apavorou-se. E agora? Quem enxotaria os abutres? Viria Deus e o encontraria dormindo? E as promessas que há tanto tempo esperava? Sobreviveriam ao seu sono?

Me consola saber que Deus o encontrou no seu sono. Que enquanto Abraão dormia, Deus reafirmou a certeza dos Seus propósitos na sua vida. Que o seu cansaço e falta de forças pra continuar não fez com que Deus desistisse dos Seus planos para ele. As promessas continuavam de pé e provaram não ser mera ilusão da sua mente, pois o momento chegou em que tudo se cumpriu exatamente como Deus havia lhe falado.

Que dizer disso? Em minha caminhada tenho aprendido que Deus não brinca conosco naquilo que nos fala e que nenhuma palavra Sua deixou de se cumprir até agora. O que nos leva a crer que isso possa acontecer? Desde que estejamos dormindo em Seus braços, nossas promessas estarão seguras nele.

"Vinde a mim, todos os que estai cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo e leve." (Mateus 11:28-30)

"Deus não é homem, para que minta; nem filho do homem, para que se arrependa. Porventura, tendo ele dito, não o fará? ou, havendo falado, não o cumprirá?" (Números 23:19)

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Desejo de vencer


“Olhando firmemente para Jesus, autor e consumador da nossa fé.” (Hb. 12:2)
Essa semana uma amiga me escreveu para dizer que estava acompanhando meus textos e que admirava muito minha vontade de vencer. Não tinha pensado nisso desta forma, mas talvez ela tenha razão.

Todo mundo tem vontade de vencer, seja nas pequenas ou nas grandes coisas da vida. Fico me lembrando dos corredores de maratonas e dos grandes esforços que fazem ao longo dos anos, preparando-se para aquele momento especial de disputar uma grande corrida. Engraçado pensar nisso, pois é exatamente esta a comparação que a bíblia faz sobre a carreira que estamos a percorrer. A única diferença é que não estamos disputando uns com os outros, a carreira é individual.

“Corramos com perseverança a corrida que nos é proposta” (Hb. 12:1)

Gosto demais do livro de Hebreus, é o meu favorito do novo testamento, se é que tenho favorito. Talvez porque ele conta a história de alguns atletas e suas corridas, os esforços que fizeram para vencer e os resultados que alcançaram. O livro de Hebreus é como aquela pessoa que entrega uma garrafa de água ao corredor após alguns quilômetros de maratona, ou como o treinador que, nos intervalos entre duros rounds, enxuga o rosto do boxeador, mata sua sede, alivia suas dores e anima-o a continuar lutando.

Sou muito grata a Deus pelo livro de Hebreus. Ele conta a história de homens que tiveram uma visão de Deus (alguns apenas um vislumbre) e se entregaram a ela com tudo o que tinham. Verdadeiros atletas motivados pelo ardente desejo de conquistar recompensas divinas, as quais consideravam superiores a quaisquer prêmios humanos. Possuíram a atitude certa diante dos planos de Deus e por isso tiveram suas histórias registradas para nos servir de exemplo.

Imagino que existiram aqueles, porém, que, como o jovem rico, se recusaram a apostar todas as fichas naquilo que Deus lhes dizia. Alguns tiveram reservas, medo de seguir as direções divinas depositadas em seus corações, ou mesmo as visões e palavras recebidas ao longo de suas caminhadas cristãs. Homens como Esaú, o rei Saul e Judas, que preferiram prêmios terrenos e recompensas imediatas, e não podemos julgá-los por isso. Mas a bíblia não faz referência a eles como exemplos a serem seguidos por nós, que hoje estamos diante das mesmas escolhas que um dia eles estiveram.

Esaú teve fome e o desejo de realizar uma necessidade imediata o levou a desprezar todo o importante futuro de patriarca traçado por Deus para sua vida. Ficou de fora da linhagem do Messias e o povo de Israel não levou seu nome. Saul foi pressionado pelas circunstâncias e cobranças daqueles ao seu redor e comprometeu o glorioso reinado que Deus planejou para ele sobre Israel. Sua descendência também foi prejudicada por suas escolhas e não houve entre ela sucessor ao trono. Deus precisou levantar novo rei que o seguisse de todo coração e sem reservas. E o que dizer de Judas? Pressionado pela ganância do dinheiro fácil, trocou a honra de um trono eterno ao lado do Rei dos reis e o título de Apóstolo do Cordeiro, no desejo de ver um rei terreno se manifestar e trazer liberdade temporária a Israel. Pelo menos é o que dizem ter sido a sua intenção ao entregar Jesus por 30 moedas de prata. Caso estejam errados, tanto pior sua escolha, pois reles desejo pelo dinheiro o levou a desprezar os incomparáveis planos de Deus a seu respeito, honrarias eternas e jamais oferecidas a outros homens.

Nossas escolhas hoje determinam o rumo do nosso futuro. Escolheremos a loucura de Deus ou a sabedoria dos homens? Iremos vencer uma corrida eterna e conquistar prêmios mais preciosos que todos os tesouros da humanidade, ou correremos uma maratona terrena, disputando uns com os outros a maior sombra debaixo do sol?

Cabe a nós a decisão sobre onde aplicaremos nossos esforços nessa vida. Não sem fé, não sem a mesma loucura de convicção que moveu os grandes heróis de Deus a entregar suas vidas sem reservas aos planos de Deus rascunhados em seus corações. Enxergando o invisível, caminharam com Deus e não se embaraçaram com as ofertas dessa vida. Seus olhos estavam fitos naquele que os chamou, ainda que esse chamado não tenha passado de um mero sussurro.
O mesmo desafio nos é feito agora, todos os dias. E estes homens que nos serviram de exemplo são hoje nossas testemunhas, testemunhas que nos observam e ao mesmo tempo nos relembram que este caminho de fé já foi trilhado antes de nós. Trilhado e vencido.

Que esta certeza nos inspire a dar os passos certos e a não desistir antes de vencermos.

“Vocês não sabem que todos os que correm no estádio, apenas um ganha o prêmio? Corram de tal maneira que alcancem o prêmio. Todos os que competem nos jogos se submetem a um treinamento rigoroso, para obter uma coroa que logo perece; mas nós o fazemos para ganhar uma coroa que dura para sempre.” (1 Co. 9:24,25)

“Irmãos, não penso que eu mesmo já o tenha alcançado, mas uma coisa faço: esquecendo-me das coisas que ficaram para trás e avançando para as que estão adiante, prossigo para o alvo, a fim de ganhar o prêmio do chamado celestial de Deus em Cristo Jesus.” (Fp. 3:13,14)

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Itinerários

Ef. 2:10 Porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus antes preparou para que andássemos nelas.

Assisti um filme sobre uma menina que, do dia para a noite, virava princesa. Então, em sua primeira manhã como princesa, foi acordada por seus secretários lhe passando o itinerário das suas atividades para o dia: dez horas, encontro com o primeiro-ministro, onze horas, reunião com o grupo de senhoras, meio-dia, almoço com a rainha, e por aí vai.
Fiquei então imaginando se Deus teria um itinerário para nossas vidas. Se Ele teria um momento específico para determinados encontros, uma espécie de agenda programada para nós. Acredito que sim.
Pensei nisso tentando entender um pouco a espera. Por que tantas vezes precisamos esperar? Por que certas portas não se abrem anos antes? Por que não partimos para determinado lugar meses antes? Às vezes reclamamos da demora em certos momentos, quando estamos esperando que algo aconteça, principalmente quando sabemos que foi o próprio Deus quem prometeu. Percebi que existem várias razões para isso, mas uma delas são os encontros divinos. Deus tem uma agenda e um itinerário específico de cada caminho, sabe exatamente quando, onde e como eles devem se cruzar. Como um engenheiro ao estabelecer os trilhos dos trens e o horário para cada um passar por ali em perfeita harmonia e sem colisões. É um trabalho esmeroso e muito preciso. Qualquer falha causará acidentes irreparáveis.
Da mesma forma Deus orquestra nossos caminhos com perfeita precisão. Se somos guiados por Ele, estaremos sempre no lugar certo e, principalmente, na hora certa.

Eis que eu estou em pé junto à fonte, e as filhas dos homens desta cidade vêm saindo para tirar água; faze, pois, que a donzela a quem eu disser: Abaixa o teu cântaro, peço-te, para que eu beba; e ela responder: Bebe, e também darei de beber aos teus camelos; seja aquela que designaste para o teu servo Isaque. Assim conhecerei que usaste de benevolência para com o meu senhor. Antes que ele acabasse de falar, eis que Rebeca, filha de Betuel, filho de Milca, mulher de Naor, irmão de Abraão, saía com o seu cântaro sobre o ombro. (Gn. 24:13-15)

Aquele era um dia como outro qualquer para Rebeca. Talvez ela não imaginasse que havia um itinerário programado para sua vida naquela dia, algo tão especial que a colocaria dentro da linhagem do Messias. Mas havia.
Com precisão, os caminhos de Rebeca se cruzaram com os daquele viajante naquele dia específico e sua vida nunca mais foi a mesma.
A história me dá a entender que Rebeca vinha esperando por esse momento com ansiedade, desejando uma mudança que nem ela entendia, mas quando o momento finalmente chegou, ela não teve dúvida e partiu imediamente, apesar da insistência da sua família para que ficasse mais uns dias. Em seu coração devia arder a expectativa de que Deus tinha algo maior para a sua vida.

E o que dizer de Rute?

Então ela foi e começou a recolher espigas atrás dos ceifeiros. Casualmente entrou justo na parte da plantação que pertencia a Boaz, que era do clã de Elimeleque. Naquele exato momento, Boaz chegou e saudou os ceifeiros: “O Senhor esteja com vocês.” (Rute 2:3,4)

Quem conhece a história de Rute sabe o quanto aquele encontro com Boaz significou. Dele veio salvação para sua casa e para o mundo. Desse encontro nasceram reis e reinos. Desse encontro veio o Messias, o Rei dos reis, o Salvador. Que grande momento! Mas e se Rute não estivesse ali naquele dia? E se ela tivesse decidido ficar em sua terra? E se estivesse cansada da demora?
Deus sabe o quanto ela precisou lutar contra as resistências da sua alma, os conselhos de sua sogra para que ficasse em Moabe, e permanecer firme em uma esperança que nem mesmo ela sabia o que significava. Sua convicção era tanta que deixou tudo e partiu com Noemi para uma terra desconhecida, sem promessa de riqueza, mas pelo contrário, expectativa de pobreza e mendicância. Nada a impediu, pois imagino que um sonho de Deus queimava em seu coração.

Talvez se Rute e Rebeca pudessem contar suas histórias teríamos detalhes bem interessantes do que se passava em seus corações. Mas acredito que, como José e Abraão, essas duas mulheres tinham de Deus sonhos, palavras divinas sussurradas em seus ouvidos, expectativa de grandezas que mal conseguiam expressar.
É assim que Deus faz, Ele planta no coração dos homens os Seus planos. Rute e Rebeca, assim como Abraão e José, sabiam que havia coisas maiores para alcançar, além do que seus olhos podiam enxergar ou suas palavras conseguiam explicar. Apenas sabiam. E essa certeza lhes deu firmeza para abandonar a segurança de tudo o que conheciam quando o momento finalmente chegou e partir para o desconhecido, confiando apenas naquilo que Deus lhes falou ao coração.

Confie no Senhor. O momento chegará!

Ec. 3:1 Tudo tem a sua ocasião própria, e há tempo para todo propósito debaixo do céu.
Ec. 3:11 Tudo fez Deus formoso em seu devido tempo

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Cruzamentos


Gênesis 40:3,4 e mandou prendê-los na casa do capitão da guarda, na prisão em que José estava. O capitão da guarda os deixou aos cuidados de José, que os servia.

Você já reparou que em vários momentos da nossa caminhada nossos caminhos se cruzam com o de outras pessoas? Elas chegam mesmo a caminhar conosco boa parte do tempo, até que as estradas se dividem e elas se vão. São belas surpresas da parte do Senhor.
Acredito que Deus tem propósitos especiais nesses encontros. Seja para que sejamos abençoados ou abençoemos, ou mesmo que tenhamos companhia em um trecho da jornada, cada encontro tem um propósito específico. Talvez nunca venhamos a saber aqui na terra qual o motivo de nossos caminhos terem cruzado o de certa pessoa, mas certamente houve algo proveitoso na experiência, seja bom ou ruim.
Em toda a bíblia vemos Deus entrelaçar os caminhos dos homens em verdadeiros encontros divinos. Em alguns deles verdadeiros laços foram criados: Davi e Jonatas, Rute e Noemi, Paulo e Silas.
Houve ocasiões, porém, em que o Senhor colocou pessoas em contato com seu povo para que Seus propósitos fossem cumpridos: José e os servos de Faraó, Rute e Boaz, Ester e o rei Assuero.
No caso de José, havia anos que ele estava completamente esquecido na prisão de Faraó. Não havia chance que ele fosse lembrado por alguém, principalmente por se tratar de um reles escravo. Não havia chance de todos aqueles sonhos que teve se cumprirem visto que ele estava acorrentado em um porão velho e fétido, junto à escória do Egito. Quem se lembraria dele ali? Não havia ninguém naquela prisão que pudesse compreender os sonhos que ele trazia no coração. Quem o tiraria dali? Não havia ninguém que tivesse interesse em interceder a seu favor.
A parte mais linda dessa história é que, no momento certo, Deus enviou pessoas até José. Enviou pessoas até ele ali, na prisão onde ele estava. José não precisou se esforçar pra ser notado, chamar a atenção e conseguir a ajuda de alguém. Acredito que ele nem esperava aquela surpresa da parte do Senhor. Mas acredito também que ele soube reconhecer a oportunidade.
Finalmente José enxergava uma luz no fim do túnel, uma oportunidade de ser lembrado, de obter o favor do rei. Depois de tantos anos sem enxergar nada, finalmente José enxerga Deus se movendo em sua vida. Ele acreditava que fora Deus quem colocou aqueles homens importantes em sua vida com o propósito de tirá-lo dali e enfim cumprir Suas promessas. Imagino como seu coração se encheu de esperança e expectativa. Imagino também como aquela excitação foi minguando à medida que o tempo passava e, mesmo ele sabendo que Deus tinha lhe mostrado sua via de escape, nada acontecia. Dois anos se passaram e nada, nenhuma palavra, nenhuma notícia.
Pense nisso! Às vezes esperamos algo do Senhor e começamos até mesmo a ver o Seu mover, ficamos empolgados, porém a manifestação da promessa ainda não chega. O que fazer? Estaria Deus brincando conosco? Estaríamos nos iludindo com falsas esperanças? Imaginando coisas? Ou teríamos nós falhado em nossa fé? O que José deve ter pensado?
Muitos são os pensamentos, mas o fato é que não sabemos o motivo de tanta espera. O que sabemos foi que, ao final de toda a história, Deus fez com José infinitamente além do que ele imaginava. Tudo bem que ele tinha sonhado com os irmão se curvando diante dele e mesmo o sol e as estrelas lhe prestando homenagem, mas governador de todo o Egito da noite para o dia?? Isso estava além da imaginação de José.
Entretanto, ninguém poderá dizer que esse momento o pegou de surpresa. Embora tenha sido de forma inesperada, José esperava por aquele momento. Ele tinha a convicção dos sonhos de Deus pra sua vida no coração e a guardou firmemente durante os duros anos de sequidão no cativeiro. Acredito que ele exerceu fé semelhante a de Abraão, considerou Deus fiel para cumprir o que prometeu e permaneceu firme, não deixando corromper-se pela sujeira do Egito e pela tentação de pensamentos de desespero e dúvida.
Acredito que quando temos uma promessa de Deus no coração ela arde mesmo nos momentos difíceis, e isso nos ajuda a encontrar forças quando a estrada se torna comprida e entediante, quando a espera é longa e nada acontece, sequer enxergamos sinal de vida no horizonte. Nessas horas é somente a confiança naquilo que ouvimos da parte de Deus que nos faz continuar caminhando.
Graças a Deus pelos exemplos deixados na Sua Palavra. Eles são como âncoras para nossas almas.O momento certo chegará, mas somente aqueles que, como José, não perderam a expectativa da promessa verão cumpridos os sonhos de Deus em suas vidas.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Pela fe'


*peco perdao pelo teclado sem acentuacao

Hebreus 11:8 Pela fe’ Abraao, sendo chamado, obedeceu, indo para um lugar que havia de receber por heranca; e saiu, sem saber para onde ia.

Ainda me lembro quando os caminhos do Senhor me trouxeram pra o Timor Leste. Eu ja tinha sido avisada de que seria levada para bem longe, portanto posso dizer que nao foi uma surpresa quando tudo aconteceu. Mas tambem posso dizer que me surpreendi ao perceber que o Senhor nao estava brincando quando falou que o lugar era longe.
Embora ja tenha morado longe de casa algumas vezes, essa foi a primeira vez em que me senti um pouco como Abraao quando chamado a deixar tudo o que conhecia e partir para uma terra “que o Senhor mostraria”. Perdi o sono por algumas noites pensando em que tipo de lugar seria esse, como seria minha vida por la, se suportaria estar tao longe, dentre varias outras coisas. Pela primeira vez senti a dor de me separar da minha familia e percebi que todas as outras vezes em que me despedi temporiamente foram apenas ensaios, preparacoes para este momento. Acho que o Senhor nos prepara aos poucos por meio de ursos e leoes, ate que cheguem os gigantes.
O que me surpreende e’ que o chamado do Senhor chegou em uma hora em que simplesmente nao pude dizer nao. Nao havia como. Muito estava em jogo, sabia que o momento pelo qual esperava havia chegado e seria um tola se olhasse pra qualquer outra coisa que nao as promessas do Senhor. E olhando para elas, como Abraao, parti.
Consigo entender um pouco Abraao, e descubro que as coisas nao foram tao dificeis pra ele como imaginamos. Deus nunca nos manda partir sem providenciar provisao. Desde o local onde vamos habitar ate as pessoas que vamos conhecer, tudo parece demonstrar que entramos em um cenario previamente preparado pelo Senhor. E’ lindo perceber sua mao cuidando de cada detalhe.
Mas uma vez tendo partido, nao pensemos que tudo esta’ resolvido. Ha’ ainda o periodo de estar ali e aguardar a manifestacao dos propositos do Senhor. Embora tenhamos tomado um passo de fe’ e partido, nao comecamos a ver o plano do Senhor se desenrolar da noite para o dia. Precisamos de um pouco mais de confianca de que Deus sabe porque nos levou para aquele lugar, pois a nossa volta parece que nada esta’ acontecendo. Uma vez dentro do cenario, precisamos aguardar o cumprimento do que foi prometido. Nossa parte e’ entrar em cena, o Senhor cuidara’ dos proximos capitulos. Pelo menos foi nisso que Abraao confiou e penso que sua fe’ e’ um modelo a ser imitado.
Imagino que muitas vezes, diante da demora, ele se questionou: “Mas o que estou fazendo aqui, longe de casa e da familia? Pra que Deus me trouxe pra ca? Nada esta’ acontecendo, qual o proposito disso? De que me valeu deixar tudo e vir pra tao longe se nao vejo nada acontecer?” Sera’ que em Abraao tambem havia o medo de que o Senhor o mandaria de volta pra casa depois de certo tempo com as maos vazias? Sem promessas cumpridas? Sera’ ainda que Abraao pensou que ele pudesse ter falhado em algum aspecto de forma que a promessa nao pode se cumprir ou nao fosse mais valida?
Imagino que todos esses pensamentos o perseguiram, mas a biblia destaca que a atitude de Abraao foi firme, tendo por fiel aquele que fez a promessa. Nos seus momentos de fraqueza, afligido por pensamento de desespero e duvida, Abraao se fortalecia no Senhor dando gloria a Deus, “estando plenamente convencido de que ele era poderoso para cumprir o que havia prometido” (Rom. 4:21). Independente de suas falhas e limitacoes.
Isso me faz pensar que, quando Deus nos faz uma promessa, Ele pesa as nossas falhas e limitacoes, nossos desanimos e crises, e nao se deixa impedir por eles. Ele mesmo cumprira’ o que prometeu, basta que nossos coracoes se firmem nessa esperanca, que haja compromisso em nao desistir, em nao deixar que a promessa se perca de vista.
Que nossos coracoes, como o de Abraao, queimem pela expectativa da promessa.

Hebreus 10:38,39 Mas o meu justo vivera’ pela fe’. E, se retroceder, nao me agradarei dele. Nos, porem, nao somos dos que retrocedem e sao destruidos, mas dos que creem e sao salvos.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Caminhada



“Portanto, nós também, visto que estamos rodeados de tão grande nuvem de testemunhas, deixemos todo embaraço, e o pecado que tão de perto nos assedia, e corramos com perseverança a carreira que nos está proposta, olhando firmemente para Jesus, autor e consumador da nossa fé” (Hebreus 12:1,2)

Ao pensar em um título para meu blog, me senti motivada a escrever sobre a caminhada cristã. Desde o momento em que despertamos para o conhecimento de Deus somos convidados para uma caminhada com Ele.
Entramos nessa caminhada meio inconscientemente, sem sequer nos darmos conta dela até que já tenhamos percorrido parte do caminho. Normalmente a descoberta se dá quando já estamos muito longe pra voltar e ainda falta muita estrada pela frente.
É bom saber que Deus nos convida pra uma caminhada com Ele. Caminhada é algo dinâmico, ativo, contemplativo. A depender dos caminhos por onde passamos aprendemos lições diferentes, experimentamos emoções diversas, absorvemos novos conceitos. Consigo imaginar a figura carinhosa do Senhor caminhando ao nosso lado na pessoa do Espírito Santo nos ensinando as mais diversas lições. “Vês isso, filho? Sentes isso? Consegues perceber o significado disso?” Em todos os momentos da caminhada existe o desejo de Deus de se revelar aos Seus filhos, tornar-se conhecido, fazê-los entender Seus caminhos, Suas maneiras, Seu amor, Sua compaixão, Sua extraordinária pessoa.
A caminhada é longa, mais do que imaginamos. Há muito a ser ensinado e somos lentos em aprender. Mas Deus é paciente.

Em meio à caminhada, um relacionamento é desenvolvido. Ganhamos confiança na pessoa do Mestre que caminha ao nosso lado, confiança que será importante quando o caminho se tornar difícil e desconhecido. Haverá momentos em que nos sentiremos cansados e precisaremos parar para descansar e recuperar o fôlego, mas Deus nos levará para o lugar certo desse descanso. O sol se tornará quente sobre as nossas cabeças, mas o Senhor será a nossa sombra. Nossa garganta estará seca de sede, mas Ele nos levará a fontes de águas e dará descanso às nossas almas. Nossos pés estarão cansados e Ele aliviará o peso dos nossos ombros. Ele não tem pressa, apenas deseja que continuemos caminhando.


A parte mais imperceptível desta caminhada são as mudanças que vão acontecendo em nós. Em certo momento olhamos para trás e não nos reconhecemos. Antigos temores não estão mais presentes, desconfianças e questionamentos dão lugar a uma fé cada vez mais firme. Percebemos nossos pés mais fortalecidos, certos músculos mais desenvolvidos, algumas habilidades adquiridas. Perdemos uma parte da inocência e nos tornamos mais conscientes e sóbrios, talvez por enxergarmos certo grau de responsabilidade sobre nós. Percebemos que existem pessoas nos observando, e mesmo nos seguindo à medida que caminhamos. Nossos passos ganham firmeza e tornam-se mais ousados. Não há mais como voltar e a idéia de parar é pior que a de morrer. Nessa hora descobrimos que há um prêmio a ser alcançado e que alcançá-lo tornou-se nossa maior motivação, nosso propósito de vida. Haverá prêmio maior do que ouvir nosso Senhor nos olhar nos olhos e dizer: “Muito bem, servo bom e fiel!” Nada na terra é comparável a essa honra.

Caminhar com Cristo é uma entrega. Não existem atalhos e não somos nós que escolhemos por onde andar. Na maior parte do tempo precisaremos estar bem atentos para não nos desviarmos do caminho traçado por Ele e nos descobrirmos caminhando sozinhos. Esse é um dos maiores perigos da caminhada e não é à toa que somos exortados a desembaraçar-mo-nos de todo peso, de todo o pecado, correr com perseverança e olhar firmemente para Jesus. Firmemente. Haverá momentos em que acharemos que O perdemos de vista, que Ele já não caminha conosco tamanho o senso de desorientação que sentimos. Mas Ele nos fará lembrar que continua ali, nos conduzindo enquanto estivermos dispostos a segui-lo. Para aonde for, por onde for, a qualquer custo.

Deu. 1:31 como também no deserto, onde vistes como o Senhor vosso Deus vos levou, como um homem leva seu filho, por todo o caminho que andastes, até chegardes a este lugar.

Fil. 3:13, 14 Irmãos, quanto a mim, não julgo que o haja alcançado; mas uma coisa faço, e é que, esquecendo-me das coisas que atrás ficam, e avançando para as que estão adiante, prossigo para o alvo pelo prêmio da vocação celestial de Deus em Cristo Jesus.

Mat. 16:24, 25 Então disse Jesus aos seus discípulos: Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz, e siga-me; pois, quem quiser salvar a sua vida perdê-la-á; mas quem perder a sua vida por amor de mim, achá-la-á.