sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Doce descanso



Tenho para mim que viver pela fé é o maior desafio dado por Deus à humanidade.
"O meu justo viverá pela fé" - Hebreus 10:38

Viver pela fé nada mais é do que basear nossa confiança numa palavra. Fazemos isso de forma natural todo o tempo. Um amigo nos diz: "Nos encontramos sexta-feira em frente ao cinema." Recebemos uma carta do banco dizendo: "O dinheiro será liberado na próxima terça-feira." Nossa confiança é tão grande nessas palavras que aguardamos o dia determinado chegar na certeza de que encontraremos o que nos foi dito. 

Acreditar em palavras humanas nos parece fácil, principalmente porque podemos ver e ouvir aquele que nos fala, ou porque temos algo escrito por aquela pessoa ou instituição.

Viver pela fé em Deus é simplesmente crer que a Palavra dele foi falada a nós e se cumprirá no tempo determinado.

Como seria bom se pudéssemos descansar nessa certeza. Passamos tanto tempo ansiosos e estressados, aguardando o cumprimento de algo e frustrados pelo passar dos dias sem sinal do que nos foi prometido.

Se pudéssemos descansar na certeza de que o que Deus prometeu acontecerá no tempo determinado, quão mais leve seria a nossa vida. Quanto mais aproveitaríamos os nossos dias no descanso de que "o que a mim me concerne Deus levará a bom termo" (Salmo 138:8). Deixaríamos as preocupações com "e se não acontecer?" e desfrutaríamos mais o presente, as circunstâncias atuais e toda a sua beleza. Mas na angústia da espera deixamos de viver o momento presente e enxergar as pessoas ao nosso redor.
Que Deus nos ajude a entrar no seu descanso.

"Portanto resta ainda um repouso sabático para o povo de Deus. Pois aquele que entrou no descanso de Deus, esse também descansou de suas obras, assim como Deus das suas." Hebreus 4:9,10.

sábado, 27 de julho de 2013

Propósito


"Para onde me ausentarei do teu Espírito? Para onde fugirei da tua face? Se subo aos céus, lá estás; se faço a minha cama no mais profundo abismo, lá estás também; se tomo as asas da alvorada e me detenho nos confins dos mares, ainda lá me haverá de guiar a tua mão, e a tua destra me susterá." Salmo 139:7-10

Ontem uma amiga me fez uma pergunta que me deixou a pensar: Como é a vida no novo país?
Eu compreendi imediatamente a razão do entusiasmo em sua voz e a curiosidade da pergunta, afinal grandes mudanças produzem excitação, euforia, novidade. É natural do ser humano o desejo por mudança, por progresso, pela realização de sonhos, pela execução de projetos e planos. 
Alimentamos a ideia de que uma mudança de vida nos tornará mais felizes. Acreditamos que alcançar determinado objetivo nos trará realização. Se tão-somente eu pudesse ter aquele emprego, se eu pudesse ir morar naquela cidade ou naquele país, se pudesse me formar naquele curso, ou me casar com aquela pessoa... ah, aí então a minha vida seria diferente! 

Todos nós temos algo que queremos e passamos nossas vidas buscando alcançar, na certeza de que então seremos felizes. Muitas vezes cobiçamos o que não temos, acreditando que aquilo é o que nos falta para a felicidade plena. Não é à toa que existem tantas revistas e programas de televisão mostrando a vida de celebridades, daqueles que atingiram o objetivo de acumular fama e riqueza, de comprar a casa dos sonhos ou de casar-se com a pessoa mais bela do mundo. De conquistar algo que acreditamos que, se tivéssemos, aí então a nossa alegria seria completa.

Entretanto, tenho aprendido que toda essa busca por realização não passa de uma camuflagem pela busca de algo mais profundo: Propósito. Temos necessidade de um propósito na vida, de entender porque estamos aqui e qual a razão da nossa existência nesse mundo. Pessoas realizadas são aquelas que conseguem encontrar o seu propósito e entregar-se a eles com tudo o que são. São aquelas que finalmente descobrem o que devem fazer com suas vidas e alcançam os meios de realizar. Não é por outro motivo que as novidades dos famosos quase sempre são seguidas de notícias de divórcios, drogas, bebidas, prostituição e, muitas vezes, morte. Embora tenham alcançado o que a maioria da sociedade ironicamente ambiciona, não encontraram ali os seus propósitos de vida e, para sustentar o vazio de tal decepção, recorrem às farras, esbanjamentos, orgias, bebidas e drogas. Imagino que o grande questionamento que surge em seus mentes seja: Consegui tudo o que sempre quis, e agora? O que vem depois disso? O que mais me resta alcançar para me sentir realizado?

"Tenho lhes dito estas palavras para que a minha alegria esteja em vocês e a alegria de vocês seja completa. O meu mandamento é este: amem-se uns aos outros como eu os amei." João 15:11,12

Mas então, onde encontrar realização? Este texto da Bíblia nos deixa uma dica que a maioria de nós poderia atestar ser verdadeira, ainda que não conhecêssemos o versículo. Lembra daquela vez em que você andava passeando pelo seu bairro e um desconhecido, totalmente desorientado, lhe pede informações de como chegar a determinado lugar? Você então lhe dá todas as orientações que ele precisa e fica satisfeito ao vê-lo partir aliviado. Que satisfação é essa que você sente?
Ou daquela vez em que um amigo precisava tirar um boa nota em uma prova e você se sentou para estudar com ele, e a sua ajuda o fez passar na matéria? Que alegria é essa que você sente pela gratidão e sucesso do seu amigo? 
Ou ainda daquela pessoa que estava tão desesperada precisando pagar uma conta e você pôde ajudar com a quantia que ela precisava, sem que isso fosse peso pra você? Que satisfação é essa que surge no seu coração pela habilidade de socorrer alguém e pôr fim à sua angústia?
Que dizer da alegria de hospedar pessoas em sua casa e poder dividir com elas o conforto  e as delícias do seu lar?
Lembra de quando você pôde oferecer um ombro amigo, e as suas palavras trouxeram conforto e novo ânimo a alguém tão abatido? Enxugaram lágrimas, renovaram auto-estima? Você se sentiu tão útil na vida de alguém e isso te deixou feliz. Com uma sensação de contentamento e dever cumprido.

Que sentimentos são esses que experimentamos nas oportunidades que temos de servir ao nosso semelhante? Que realização é essa que encontramos nas pequenas oportunidades que temos de ser útil a alguém? Seria esse o segredo do nosso propósito de vida?

"Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas." Efésios 2:10

A realidade é que fomos todos criados por Deus para um propósito. Encontrá-lo é o segredo para realização de vida. Deus depositou em nós dons e talentos, possuímos habilidades só nossas, próprias para, de alguma forma, beneficiar alguém ao nosso redor, em nosso mundo.

O princípio da realização se encontra embutido nos mandamentos, amar a Deus, amar ao próximo. Tão simplista que não parece verdadeiro, mas sabemos ser verdade porque todos tivemos a oportunidade de experimentar a satisfação de servir a alguém ao longo das nossas vidas. Muitos de nós fomos feridos pela ingratidão, pela falta de reconhecimento, pela traição, o que acabou por cobrir de cinzas a alegria do amor que manifestamos de forma tão voluntária e desinteressada. Acabamos por restringir nosso amor pelo medo da ingratidão. Sufocamos aquilo que nos traz felicidade genuína pela dor da traição. Entretanto, o princípio da satisfação permanece ali, escondido por trás da fina cortina do medo e da dor, esperando para ser encontrado, caso desejemos abri-la.

Não por outro motivo o amor a Deus é o primeiro mandamento, mesmo antes do amor ao próximo. É por amor a Deus que encontramos força e motivação para seguir amando ao próximo, mesmo tendo sido feridos em algumas ocasiões. É o amor a Deus que nos mantém na trilha da satisfação do nosso propósito quando o amor ao próximo se torna difícil. Uma vez que nele, no amor ao próximo, está a essência da nossa realização, é importante que o amor a Deus seja a âncora que precisamos para nos impedir de sabotar a nossa própria felicidade. 

Quando atingimos esse entendimento, aí então o nosso amor alcança o nível mais refinado. Passamos a amar e a servir sem qualquer interesse em gratidão ou reconhecimento, mas apenas pela satisfação que experimentamos em, de alguma forma, ser útil ao nosso próximo e agradar a Deus. Nos basta o serviço, a ajuda, a utilidade, o socorro ao necessitado. Encontramos realização plena nos atos de amor em si, conforme Deus coloca em nossos corações.

"Tenham o cuidado de não praticar suas ‘obras de justiça’ diante dos outros para serem vistos por eles. Se fizerem isso, vocês não terão nenhuma recompensa do Pai celestial. "Portanto, quando você der esmola, não anuncie isso com trombetas, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, a fim de serem honrados pelos outros. Eu lhes garanto que eles já receberam sua plena recompensa. Mas quando você der esmola, que a sua mão esquerda não saiba o que está fazendo a direita, de forma que você preste a sua ajuda em segredo. E seu Pai, que vê o que é feito em segredo, o recompensará". Mateus 6:1-4

Volto, então, à pergunta feita pela minha amiga: Como vai a vida no novo país?
A busca pelos propósitos de Deus permanece. Não importa o lugar onde estejamos, nossa vida é a mesma, somos quem somos em quaisquer circunstâncias. Nosso ser anseia por propósito, por sentido, e a simples mudança de status ou de localidade não nos fornece isso. Onde quer que estejamos, ali Deus estará e ali deveremos buscar a sua presença. É somente nela que encontraremos a tão desejada realização.

"Uma coisa peço ao Senhor, e a buscarei: que eu possa morar na casa do Senhor todos os dias da minha vida" Salmo 27:4.

sexta-feira, 26 de julho de 2013

Verdade


"E com todo engano de injustiça aos que perecem, porque não acolheram o amor da verdade para serem salvos." 2 Tessalonicenses 2:10

Dentre os vários conceitos que existem no universo, muitos deles são absolutos. Isso significa que eles não sofrem variação em diferentes meios, locais ou circunstâncias, nem a depender de quem os observa. Nada os modificará ou suspenderá os seus efeitos, sempre existirão e se aplicarão a todas as circunstâncias. Ignorá-los não afetará a sua existência ou incidência sobre todas as coisas. Ainda que se busque suprimi-los, não se consegue anulá-los.
Os conceitos absolutos mais óbvios se encontram nas leis da física. Nossas aulas da matéria nos ensinaram os princípios básicos destas leis, a sua constância, exatidão, e a forma como tudo no universo está sujeito aos seus efeitos. Elas regem absolutas, imutáveis, e o conhecimento das suas regras tem sido essencial para o desenvolvimento da raça humana. É através da aprendizado dos conceitos absolutos que desenvolvemos tecnologia, criamos produtos, construímos arranha-céus. 
Lançamos os fundamentos de edifícios confiados plenamente na certeza de que as leis da física não podem falhar. Fazemos cálculos, medições, estudamos circunstâncias, aplicamos valores, tudo isso baseados no conhecimento de como as coisas funcionam no universo físico, sem alterações, sem exceções. Não esperamos que as realidades físicas se adaptem a nós, se curvem às nossas circunstâncias, se amoldem aos nossos projetos. Temos conhecimento suficiente para saber que elas incidirão inclementes e constantes sobre todas as coisas, com a mesma exatidão e precisão de sempre. Absolutas. Por esse motivo não construímos alicerces de grandes edifícios em terrenos arenosos, por mais que desejemos uma cobertura na praia. Por isso também diminuímos a velocidade do carro em curvas fechadas, por mais apressados que estejamos. E ainda porque as leis da física são absolutas, não nos lançamos de altos abismos, por maior que seja a nossa vontade de voar. Podemos fechar os nossos olhos a elas e ignorá-las, fazer o que queremos a despeito delas, e ainda ter a esperança de escapar aos seus efeitos. Mesmo assim elas persistirão em nos alcançar, em incidir sobre nós, por mais engenhosos que sejamos. Absoluta é a sua ação sobre nós e somos inteligentes ao perceber isso cedo em nossas vidas.

Ao meditar sobre tudo isso aprendi que existe um outro conceito absoluto muito além da física: a verdade. Muito embora alguns possam argumentar que a verdade é relativa, que está sujeita a circunstâncias e fatores humanos, a verdade se encontra no mesmo nível das leis da física: constante, imutável, absoluta. Se aplica a tudo e a todos, sua incidência independe da interpretação humana, não está sujeita aos olhos de quem a observa, pois se assim fosse já não seria verdade, mas mero ponto de vista.

A verdade, entretanto, não é um conceito físico, matemático, mas a realidade por trás de todas as coisas, de tudo o que existe. Conhecê-la e aprender os seus princípios é adquirir sabedoria. Assim como as leis da física, ignorá-la não terá o poder de suprimi-la, ela continuará imutável e incidente, por mais que desejemos escapar do seu alcance. Entretanto, os efeitos da ignorância à verdade não serão sentidos como os efeitos da ignorância às leis da física, ou seja, alguém pode escolher viver ignorando conhecer a verdade ou, conhecendo-a, rejeitá-la e não admiti-la como verdade em suas vidas sem sofrer efeitos aparentes ou gerar consequências visíveis ao seu redor. A sua escolha, porém, não retirará o caráter absoluto do que é verdadeiro.

"O qual deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade." 1Timóteo 2:4

Pleno conhecimento da verdade. O desejo de Deus é que tenhamos o conhecimento da verdade em sua inteireza, em sua plenitude. Que a verdade não seja apenas um conceito abstrato para nós, sujeito a opiniões humanas e mudanças dos tempos. Não verdades "adaptáveis", amoldáveis às nossas circunstâncias e conveniências, ao que melhor se adeque àquilo que julgamos certo para as nossas vidas. A verdade está além do nosso julgamento. O conhecimento dela está além do que consideramos confortável. 

"Pois haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, cercar-se-ão de mestres segundo as suas próprias cobiças, como que sentindo coceira nos ouvidos; e se recusarão a dar ouvidos à verdade, entregando-se às fabulas." 2Timóteo 4:3,4

Se não vivemos neste tempo que Paulo previu, não estamos muito longe dele. Não somente ignoramos a verdade, não suportamos ouvi-la! E para justificar a nossa rejeição, nos cercamos de pessoas com o mesmo sentimento, na certeza de que, se um grande grupo de indivíduos se unir no mesmo propósito, conseguiremos criar uma nova verdade, como se fosse possível, pela força e persistência, criar uma nova lei da física. Chegamos ao ponto de reconhecer verdades individuais, aquelas que se aplicam a mim, mas não a você, e vice-versa. Vivo de acordo com a minha verdade, aquilo que escolhi ser verdadeiro para mim.

Perguntou-lhe Pilatos: Que é a verdade?" João 18:38

A falta de conhecimento da verdade não significa que existem diferentes verdades e que cada um pode escolher o que melhor se aplica para si. Desconhecê-la não ratifica a sua inexistência, mas apenas a nossa ignorância. 

"Que aprendem sempre e jamais podem chegar ao conhecimento da verdade. E, do modo por que Janes e Jambres resistiram a Moisés, também estes resistem à verdade." 2Timóteo 3:7,8

É necessário, porém, que exista em nós o desejo de conhecê-la. Jamais provaremos o que é verdadeiro se nossos corações não estiverem dispostos a buscar a verdade. Creio que Deus nos dá várias oportunidades ao longo das nossas vidas, afinal, é a vontade dele que cheguemos ao pleno conhecimento da verdade e isso não seria possível sem a sua ajuda (Ninguém pode vir a mim, se o Pai, que me enviou, não o atrair - João 6:44). Em diferentes instantes, a nossa atenção é capturada, nosso entendimento é aberto e enxergamos algo além da nossa compreensão. Nesses momentos somos colocados diante de uma escolha: podemos desviar nossos olhos, ignorar e resistir ao que vemos, ou podemos decidir explorar, buscar enxergar além do que entendemos. Esta decisão determinará o quanto da verdade conheceremos.

A realidade é que o genuíno desejo pelo conhecimento da verdade é nossa responsabilidade e nos remeterá indubitavelmente ao Criador. Nunca seremos forçados a conhecê-la, podemos passar nossas vidas ignorando-a, mas isso não alterará o fato de que a verdade está ao alcance daquele que a buscar. Um encontro com ela poderá trazer confronto e desconforto, um preço pequeno a se pagar por uma vida segura e livre de engano. A escolha, verdade ou engano, sempre será nossa.

"E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará." João 8:32
"Eu para isso nasci e para isso vim ao mundo, a fim de dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade ouve a minha voz." João 18:37
"Respondeu-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida" João 14:6
"Santifica-os na tua verdade; a tua palavra é a verdade." João 17:17

sexta-feira, 5 de julho de 2013

Cidadania



"A nossa cidadania, porém, está nos céus" - Filipenses 3:20

Ja tive a oportunidade de morar em diferentes cidades e países, conhecer novos povos e culturas, aprender novas línguas e diferentes costumes. Muito embora cada lugar tenha sido completamente diferente do outro, todos eles me ensinaram algo em comum.

A primeira lição que aprendia em cada novo país em que chegava era que precisava conhecer as suas regras. Essa talvez fosse uma lição que não exigisse tanta pesquisa da minha parte, as regras estavam expostas em todos os lugares, bastava que os meus olhos estivessem atentos para enxergá-las. E ainda que não fossem tão evidentes, logo logo surgiria alguém disposto a me tirar da ignorância e me fazer conhecer as leis que regiam o lugar e, mais ainda, as terríveis consequências para aqueles que as violassem. 

Não demorou para que eu percebesse a importância de aprender as regras de cada país, principalmente porque elas se aplicariam a mim, quer as conhecesse ou não, uma vez que estava ali para morar. Alegar ignorância não era uma opção.

A segunda lição era que falar a língua local me abria uma imensidão de portas se comparada com aqueles que não dominavam o idioma. Saber me comunicar me levava além, me trazia aceitação e boa vontade por parte da população nativa.  E não era somente o conhecimento da língua de forma gramatical, mas comunicação que expressava interesse em conhecer, em compreender, em fazer parte. Isso porque existe um conflito dentro de nós entre aquilo que conhecemos e estamos acostumados, e o novo, o diferente. Falar a língua me aproximou, me tornou quase um semelhante.

A terceira lição foi um pouco mais difícil. Talvez porque o simples fato de ser aceita e poder viver em um novo país era, a princípio, novidade boa demais em si mesma que eu sequer pensava em querer algo mais. A ideia de ser estrangeira me intimidava, afinal, por mais que fosse aceita, aquela não era a minha pátria. Levou um tempo até que eu percebesse que eu tinha algo que nem imaginava: direitos. Até então eu pensava: "Eles são bondosos o suficiente em me permitir viver aqui", e isso me bastava. Saber que eles me concediam direitos além de deveres ia além da minha imaginação, mas muito me alegrou!

Entretanto, muito embora tenha aprendido a viver em meio a outros povos, gozando de direitos e deveres, nada nunca conseguiu remover de dentro de mim a sensação de estrangeira. Entendi que o conceito de pátria é como o de família. Com suas qualidades e defeitos, é a ela que pertencemos, é nela que nos sentimos verdadeiramente seguros e aceitos. É dela que nos orgulhamos e é nela que encontramos a nossa identidade.

"Mas a nossa pátria está nos céus, donde também aguardamos um Salvador, o Senhor Jesus Cristo" (Fp. 3:20)

Como família de Deus, possuímos uma pátria própria, muito além das fronteiras físicas deste mundo. Muito mais do que a nossa pátria terrena, é na nossa pátria celestial que encontramos verdadeira segurança e identidade. De lá somos cidadãos, não estrangeiros. Caminhamos de rosto erguido, sabedores de que fazemos parte, de que estamos em casa, de que ali é o nosso lugar.

Mas assim como a mudança para um novo país nos traz os desafios da adaptação, assim a descoberta da nossa pátria celestial. Dela nos tornamos cidadãos quando nascemos de novo em Cristo e passamos a fazer parte da família de Deus. O conhecimento dessa nova pátria é muito parecido com a experiência natural. Nela estamos sujeitos a regras, aos princípios de um Reino em que Jesus é o Senhor. Conhecê-las e obedecê-las é princípio de vida, segurança e prosperidade. Muito mais do que terríveis consequências, ignorá-las nos privará dos seus incontáveis benefícios.

A comunicação na nossa nova pátria também é de importância singular. Temos acesso ininterrupto ao Rei e, por isso, ter ouvidos para ouvir e entender é essencial. O Reino tem linguagem própria, comunicação que vai além dos nossos meros sentidos. Dominar a linguagem nos abrirá portas, nos fará andar nos caminhos traçados por Deus e nos fará ser bem-sucedidos. Oração é a via de comunicação e sensibilidade à voz do Espírito é a melhor das habilidades que podemos desenvolver, um trunfo digno de todo o nosso esforço. 

O último conceito, dentre tantos outros, é tão inesperado quanto no nível natural. Somos tomados de humildade simplesmente por poder pertencer a este lugar, não nos ocorre que possamos possuir direitos. Sim, direitos. Não direitos no sentido de exigência egoísta, mas de privilégios concedidos pelo Pai, geralmente em forma de promessas. Cidadãos do Reino gozam dos privilégios inigualáveis da presença de Deus, da sua autoridade e do seu constante cuidado e amor provedor. 

"Toda arma forjada contra ti não prosperará; toda língua que ousar contra ti em juízo, tu a condenarás; esta é a herança dos servos do SENHOR e o seu direito que de mim procede, diz o SENHOR." - Isaías 54:17


"Eis que vos dou poder para pisar serpentes e escorpiões, e toda a força do inimigo, e nada vos fará dano algum." - Lucas 10:19

A Bíblia está cheia de princípios, promessas estabelecidas por Deus para a nossa proteção e benefício. Mas existe uma teoria jurídica que diz "direito desconhecido é direito inexistente". Desconhecer aquilo que nos concerne enquanto legítimos cidadãos da pátria celestial nos faz viver como estrangeiros em terra própria, alheios aos privilégios da nossa cidadania. 

Conheça a sua nova nação, vista a sua bandeira, cumpra os seus deveres, desfrute dos seus direitos de cidadão. Torne-se consciente da sua pátria celestial. A sua cidadania custou preço de sangue.


"Todos estes ainda viveram pela fé, e morreram sem receber o que tinha sido prometido; viram-nas de longe e de longe as saudaram, reconhecendo que eram estrangeiros e peregrinos na terra. Os que assim falam mostram que estão buscando uma pátria. Se estivessem pensando naquela de onde saíram, teriam oportunidade de voltar. Em vez disso, esperavam eles uma pátria melhor, isto é, a pátria celestial. Por essa razão Deus não se envergonha de ser chamado o Deus deles, pois preparou-lhes uma cidade." - Hebreus 11:13-16

"Deus nos ressuscitou com Cristo e com ele nos fez assentar nos lugares celestiais em Cristo Jesus" - Efésios 2:6

quarta-feira, 24 de abril de 2013

Primavera


Ao cheiro das águas brotará e dará ramos como a planta nova. - Jó 14:9

Por mais que tentasse, jamais conseguiria exprimir a beleza e a grandeza da primavera. Vivendo no Brasil não temos a oportunidade de observar esse fenômeno, nossas plantas estão sempre verdes e nossas árvores sempre cheias de folhas. É somente quando suportamos um longo e frio inverno num país longe do equador que aprendemos a apreciar esse momento.

No inverno tudo seca. O frio é tão inclemente que nada verde sobrevive. As árvores perdem as folhas, as flores murcham e morrem, as plantas somem e se tornam galhos secos. Para tornar o cenário ainda pior, grossas camadas de neve cobrem todo o solo, como que para garantir que o branco reine absoluto, que nada verde possa manchar a paisagem. Os dias são curtos e escuros, o sol quase não brilha.

Embora o inverno possa ter a sua beleza, sinto que é uma estação triste. Num primeiro momento, o branco da neve cobrindo ruas e casas é fascinante, como um verdadeiro conto de fadas. No entanto, lá no fundo, é como se a vida tivesse fugido, como se os pássaros jamais fossem voltar a cantar abrigados nos ramos da árvores, como se o mundo nunca mais fosse voltar a ter cores. Tudo ao redor é seco e sem vida, assustadoramente morto e cinza. Não se imagina, pela sua aparência, que as árvores e as plantas possam voltar a ter folhagem, quem dirá produzir flores e frutos. Uma sensação comparável à completa falta de esperança.

É somente quando sobrevivemos esses longos meses de frio, cinzentos e de pouco sol que conseguimos enxergar a grandeza da primavera. Ah, a primavera! É com o coração transbordante que tento descrever a beleza da primavera. A emoção de ver folhas nascerem e flores brotarem. Não consigo explicar bem o que sinto ao ver brotos em todos os lados, em todos os galhos secos e sem vida. Flores e frutos brotando naquilo que parecia morto. É como se nada pudesse deter a força da vida, a ordem divina dada à natureza para que cresça e produza seus frutos ao sentir o calor do primeiro sol. O inverno não conseguiu destruir a vida ao seu redor. Quando finalmente a força do sol obrigou o frio a ceder lugar ao seu calor, houve uma explosão de vida impossível de ser detida. Árvores mortas agora estão cobertas das mais lindas cores, plantas destruídas pelo peso da neve estão de pé e cheias de flores. Até os ramos mais tímidos despontam do solo onde estiveram encobertos por tantos meses, como que dizendo: eis-me aqui, pronto para despertar mais uma vez. Nada, absolutamente nada, pode impedir a força e a beleza da primavera!

Creio que em tudo Deus nos ensina. Em nossas vidas passamos por muitos invernos, estações onde tudo ao nosso redor parece morto e nem mesmo em nós sentimos força para viver. Estações de desesperança, sequidão, estio, tristeza. Não se vê a beleza das flores e nem se ouve o canto dos pássaros. Nos sentimos como aqueles galhos secos e sem vida e duvidamos que algo tão morto possa voltar a viver e a produzir frutos. 

Porque há esperança para a árvore, pois, mesmo cortada, ainda se renovará, e não cessarão os seus rebentos. Se envelhecer na terra a sua raiz, e no chão morrer o seu tronco, as cheiro das águas brotará e dará ramos como a planta nova. - Jó 14:7-9

Ah, a primavera! A sua chegada me ensinou muito sobre as estações. Elas são o que são: estações, e, enquanto vivermos, aprenderemos a passar por elas, desfrutar a sua beleza e resistir às suas dificuldades.

Enquanto durar a terra, não deixará de haver sementeira e ceifa, frio e calor, verão e inverno, dia e noite. - Gênesis 8:22

Deus é fiel para levar nossas vidas a novas estações.