domingo, 11 de dezembro de 2011

Tempo de tentação - partes 1 e 2


"E, depois de jejuar quarenta dias e quarenta noites, teve fome." (Mt. 4:2)

Aprendi algo sobre a tentação hoje que não tinha enxergado antes com muita clareza. Não sobre a tentação da carne que surge de forma passageira e inesperada e que, uma vez resistida, logo se vai. Falo do período de tentação que passamos pela direção do Espírito, para sermos provados e aprovados para a obra do Senhor.

A bíblia deixa claro que Jesus, antes de iniciar seu ministério, foi levado pelo Espírito ao deserto com o objetivo único de ser tentado pelo diabo. Deuteronômio 8 descreve esse processo na vida dos que decidem seguir a Deus. É um processo cujo tempo não é descrito, pode levar até mesmo muitos anos, e é justamente nisso que ele consiste. Jesus jejuou quarenta dias e quarenta noites, mas a tentação não estava nisso e nem começou nesse tempo. Foi após passar as quarenta noites em jejum, quando finalmente começou a sentir fome, que então a tentação começou. Foi no cansaço do longo tempo no deserto que a tentação se apresentou a Jesus, testando-o em todas as áreas da sua vida e com o objetivo único de fazê-lo desistir da fé em Deus e dos Seus planos para a sua vida.

Não é diferente conosco. Às vezes passamos por períodos difíceis e pensamos que a tentação está nisso, nos desafios apresentados pelos problemas. Mas são os longos períodos de dificuldade que nos colocam em posição de realmente sermos tentados. É quando estamos cansados e sem esperança que o verdadeiro teste do nosso caráter surge, quando vemos longas estações passarem sem nenhum sinal do livramento de Deus ou manifestação de Suas promessas. É quando tudo parece distante e perdido, quando a fidelidade de Deus parece falhar e a única coisa que nos resta é uma lembrança distante daquilo que um dia Ele nos falou ("Este é o meu filho amado, em quem me comprazo."). É quando tudo parece afundar e já não encontramos esperança em nossa alma para resistir, e a única coisa que ainda nos resta é uma voz fraca no coração que diz "eu sei que meu redentor vive". Estamos famintos, exaustos, o desejo de desistir cresce a cada dia, o sol torna-se mais quente, a alegria se vai e a alma definha. Não existe motivos de alegria, a tentação suga toda a vida ao nosso redor. Nesse momento atingimos o maior nível possível de tentação, quando a nossa escolha em confiar no Senhor e na Sua Palavra não se baseia em nenhuma circunstância visível, mas apenas na esperança que uma vez foi plantada em nosso coração.

Davi conhecia muito bem essa posição. Em muitos salmos ele descreve seus momentos de tentação e a firmeza da certeza plantada em seu coração:

"Até quando, Senhor? Esquecer-te-ás de mim para sempre? Até quando ocultarás de mim o rosto? Até quando estarei eu relutando dentro de minha alma, com tristeza no coração cada dia? Até quando se erguerá contra mim o meu inimigo? Atenta para mim, responde-me, Senhor, Deus meu! Ilumina-me os olhos, para que eu não durma o sono da morte; para que não diga o meu inimigo: Prevaleci contra ele; e não se regozijem os meus adversários, vindo eu a vacilar. No tocante a mim, confio na tua graça; regozije-se o meu coração na tua salvação. Cantarei ao Senhor, porquanto me tem feito muito bem." (Salmo 13)

Creio que esse é o verdadeiro teste do caráter do homem chamado pelo Senhor. Vemos-o na vida de todos os que se tornaram grandes e nem mesmo Jesus como homem foi isento de passar por ele. Creio que apenas quando finalmente somos aprovados neste teste passamos a desfrutar do nível das bênçãos que Deus deseja derramar sobre nós. Jesus saiu do teste e retornou à Galiléia cheio do poder do Espírito (Lc. 4:14). Foi então que o seu ministério começou e a glória de Deus pôde fluir por seu intermédio.

Não é um teste fácil de se passar, de modo nenhum. Pelo contrário, acredito que não existe teste mais difícil em toda a caminhada cristã (Dt. 8:2-5). Em contrapartida, as promessas feitas àqueles que forem aprovados são incomparáveis! (Dt. 8:7-13)

"E te lembrarás de todo o caminho, pelo qual o SENHOR teu Deus te guiou no deserto estes quarenta anos, para te humilhar, e te provar, para saber o que estava no teu coração, se guardarias os seus mandamentos, ou não. E te humilhou, e te deixou ter fome, e te sustentou com o maná, que tu não conheceste, nem teus pais o conheceram; para te dar a entender que o homem não viverá só de pão, mas de tudo o que sai da boca do SENHOR viverá o homem.
Que te guiou por aquele grande e terrível deserto de serpentes ardentes, e de escorpiões, e de terra seca, em que não havia água; e tirou água para ti da rocha pederneira; que no deserto te sustentou com maná, que teus pais não conheceram; para te humilhar, e para te provar, para no fim te fazer bem;" (Deuteronômio 8:2-3,15-16)

"Porque o SENHOR teu Deus te põe numa boa terra, terra de ribeiros de águas, de fontes, e de mananciais, que saem dos vales e das montanhas; terra de trigo e cevada, e de vides e figueiras, e romeiras; terra de oliveiras, de azeite e mel. Terra em que comerás o pão sem escassez, e nada te faltará nela; terra cujas pedras são ferro, e de cujos montes tu cavarás o cobre. Para não suceder que, havendo tu comido e fores farto, e havendo edificado boas casas, e habitando-as, e se tiverem aumentado os teus gados e os teus rebanhos, e se acrescentar a prata e o ouro, e se multiplicar tudo quanto tens, se eleve o teu coração e te esqueças do SENHOR teu Deus, que te tirou da terra do Egito, da casa da servidão;" Deuteronômio 8:7-9,12-14

Parte 2

Não consigo me afastar dessa passagem. Após jejuar 40 dias, Jesus realmente teve fome. O grande problema de sua alma naquele momento realmente era a fome e Satanás o tentou justamente nisso. Era possível, com base nas promessas de Deus sobre sua provisão, que Jesus ordenasse às rochas que se tornassem pães e o seu problema fosse resolvido. Mas ele soube reconhecer que era momento de teste, e não de usar a Palavra de Deus a seu benefício. Fica a grande lição para nós. Qual o grande problema de nossas almas nesse momento?
Há momentos de teste, momentos em que o mais importante é nos apegarmos à certeza da Palavra de Deus em nossos corações, e não a uma mudança de circunstâncias. Nesse período de prova, por mais que as circunstâncias nos apertem e tenhamos a palavra de Deus a nosso favor, nada parece mudar e a fidelidade de Deus é questionada. É importante permanecermos firmes no que temos ouvido dele. Nossa fé em Deus não pode estar baseada numa mudança de circunstâncias, mas na confiança em seu caráter imutável. É nisso que somos testados, se somos capazes de guardar seus mandamentos e permanecermos confiantes nele mesmo no calor e na fome dos desertos da nossa alma, em meio às provocações e chicanas de Satanás. Ele tentará nos fazer acreditar que a Palavra de Deus não funciona porque as circunstâncias não mudam, mesmo após permanecermos em fé durante tanto tempo. Jesus nos deu a resposta, o segredo e o resultado esperado deste teste: o homem deve viver da palavra saída da boca de Deus e plantada em seu coração, e não da mudança das suas circunstâncias e satisfação dos desejos da sua alma. Deus espera que passemos neste teste.